A exposição TAWAPAYERA, com curadoria de Alexandre Melo, com obras de Júlio Pomar, Delameida Esilva, Igor Jesus e Tiago Alexandre, está integrada na programação da Passado e Presente – Lisboa, Capital Ibero-Americana de Cultura 2017, no Atelier-Museu Júlio Pomar, e dá seguimento ao programa de exposições do Atelier-Museu que procura cruzar a obra de Júlio Pomar com a de outros artistas, de modo a estabelecer novas relações entre a obra do pintor e a contemporaneidade.
Mais uma vez, esta exposição é pensada, desde a sua génese, como uma intervenção específica no espaço do Atelier-Museu, onde Júlio Pomar e três artistas mais jovens – Dealmeida Esilva Igor Jesus e Tiago Alexandre –, através de diferentes meios, exploram diferentes culturas e imaginários ibero-americanos.
A propósito desta exposição Tawapayera é oportuno citar o seu curador: “A minha relação com Júlio Pomar é feita de momentos muito diversos na sua obra e na minha vida. O interesse com que pela primeira vez vi alguns dos seus trabalhos renova-se na clareza com que os recordo em momentos inesperados. Foi assim com as pinturas Amazônicas. Quando tomei banho no rio Amazonas lembrei-me de as ter visto. Quando participei nas festas dos Bois Bumba de Parintins tornaram-se mais importantes. Não é uma questão de realismo. Para os artistas, e para as pessoas vivas em geral, a energia e a vida e, se possível, a alegria são matérias para um desafio e um encontro que, neste caso, foram aceites por Júlio Pomar, Dealmeida Esilva, Igor Jesus e Tiago Alexandre. Um encontro, também, entre uma multiplicidade de práticas artísticas, hoje, e de culturas e imaginários ibero-americanos, ontem e amanhã.”
Texto do curador:
“TAWAPAYÊRA” EM LISBOA
“Quem quiser vir conhecer, Boi Bumba é nosso som, qualquer um pode aprender… E o ritmo é de Boi!”
“Talvez tenha sido quando vi pela primeira vez “O banho das crianças no Tuatuari” [de Júlio Pomar, presente nesta exposição] que soube que um dia viria a conhecer a Amazônia: que, entretanto, se tornaria para mim lugar privilegiado de imaginação e alegria, sempre renovadas.
No centro destes sentimentos está o Festival Folclórico de PARINTINS, uma das mais emocionantes manifestações de cultura popular em que já participei.
“TAWAPAYÊRA” foi o tema do espetáculo apresentado pela Associação Cultural do Boi Caprichoso em 2014. Ao ritmo das 6 horas de cada 3 noites de sucessivas edições do Festival, fui pensando que seria bom vir um dia a fazer alguma coisa sob este nome e inspiração. Poderia ser uma exposição. Lembrei-me das pinturas de Júlio Pomar, realizadas na sequência das suas viagens na Amazônia.
Um benfazejo ensejo propiciado pelo AMJP fez surgir a exposição “TAWAPAYÊRA”. À seleção de obras amazônicas de Júlio Pomar – 3 pinturas e uma série de desenhos nunca antes mostrada – juntam-se obras inéditas – feitas ou selecionadas de propósito para esta ocasião -, por três artistas da segunda década do novo século. Neles reconheço – como em tantos momentos da trajetória de Pomar – a energia vital, a liberdade criativa, a ausência de medo e o sentido (ético, mais que formal) da transgressão, que fazem o essencial do que me move no mundo da arte.
Às figuras e explosões de cores dos “índios” de Júlio Pomar, junta-se o dom da libertinagem pictórica concedido a Dalmeida Esilva (quem sabe se pelo próprio Zeus, máscara possível de todos nós), mais os incidentes rituais (pós/punk/neo/pop/trash) das tribos juvenis de Tiago Alexandre, mais as convulsões dos corpos por Igor Jesus raptados (por exemplo em “Saló”, de Pasolini), em memória de inesquecíveis massacres.
Pula galera! Ao som dos tambores da Marujada … A pajelança vai começar !!!” ALEXANDRE MELO
Sobre o curador:
ALEXANDRE MELO
Nasceu em Lisboa, onde vive e trabalha. Licenciado em Economia e Doutorado em Sociologia, é Professor no ISCTE, onde lecciona Sociologia da Arte e da Cultura Contemporânea. Desde o início da década de 1980 que escreve para jornais e revistas internacionais de arte contemporânea. Organiza exposições, participa em colóquios e conferências e escreve para catálogos e antologias, em Portugal e no estrangeiro. Tem vários livros publicados, entre os quais Velocidades Contemporâneas, Julião Sarmento, Artes Plásticas em Portugal, Arte e Mercado em Portugal.
Sobre os artistas:
JÚLIO POMAR
Nasceu em 1926 em Lisboa. Frequentou a Escola de Artes Decorativas António Arroio e as Escolas de Belas-Artes de Lisboa e Porto, tendo participado em 1942 numa primeira mostra de grupo, em Lisboa, e realizado a primeira exposição individual em 1947, no Porto, onde apresentou desenhos. Nesses anos a sua oposição ao regime de Salazar acarreta-lhe uma estada de quatro meses na prisão, a apreensão de um dos seus quadros pela polícia política e a ocultação dos frescos com mais de 100 m2, realizados para o Cinema Batalha no Porto. Permanece em Portugal até 1963, ano em que se instala em Paris. Actualmente vive e trabalha em Paris e Lisboa. No início da década de noventa, uma estada no Alto Xingú, na Amazónia, está na origem das exposições «Los Indios» (Galeria 111, ARCO, Madrid) e «Les Indiens» (Galerie Georges Lavrov, Paris), em 1990, a que se segue «Pomar/Brasil», antologia organizada também pelo CAM e apresentada em Brasília, São Paulo, Rio de Janeiro e Lisboa.
IGOR JESUS
Nasce em 1989 em Lisboa. Vive e trabalha em Lisboa. Licenciado em Escultura pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Recentemente foi seleccionado para a Residência Artística na Künstlerhaus Bethanien, Berlim (2016-2017). Em 2017, foi nomeado para o Prémio Novos Artistas Fundação EDP. Realizou várias exposições individuais: «Amar-te os ossos» (2017), Galeria Filomena Soares, Lisboa; «Chessari» (2016), Solar Galeria de Arte Cinemática, Vila do Conde; «A Última carta ao Pai Natal» (2015), Galeria Filomena Soares, Lisboa; «Debaixo do Sol» (2015), Appleton Square, Lisboa; and «Pinóquio» (2014), Old School, Lisboa.
DEALMEIDA ESILVA
Nasceu nos anos 80, Lisboa. Vive e trabalha entre Leipzig, Alemanha e Lisboa. É licenciado em Pintura (2011) pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Realizou a exposição individual «Kippy Please Stay Dead» (2013) no Old School #23, curadoria de Susana Pomba. Participou em diversas exposições colectivas, tais como: «Gente Feliz com Lágrimas» (2015), curadoria de João Pedro Vale & Nuno Alexandre Ferreira, Ponta Delgada, São Miguel, Açores; «Bells are still ringing» (2014), curadoria de Alexandre Melo, Galeria Graça Brandão, Lisboa; Collection Helene Zimmermann & Arm Der Cunst (2011), Hamburgo, Alemanha; e FUSO Festival, Anual de Video Arte Internacional de Lisboa.
TIAGO ALEXANDRE
Nasceu em 1988. Vive e trabalha em Lisboa. É licenciado em Pintura (2012) pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa. Em 2012, foi o autor da Residência artística Pé de Cabra, «Its Not Basel But It Could Be», em Lisboa. Realizou as exposições individuais: «O Filho do carro preto» (2016), Bregas, Lisboa; e «Entre o Boné e os Ténis» (2015), Galeria Graça Brandão, Lisboa. As suas obras encontram-se presentes nas seguintes coleçcões: António Cachola, Elvas; Figueiredo Ribeiro, Abrantes; Marin.Gaspar, Alvito; Norlinda e José Lima, São João da Madeira; e SONS Museum, Kruishoutem, Bélgica.