Em Maio de 1974, a Sociedade Nacional de Belas Artes organiza uma série de reuniões no âmbito das quais nasce o Movimento Democrático de Artistas Plásticos. No dia 10 de Junho de 1974, o Movimento Democrático dos Artistas Plásticos, em colaboração com o MFA, decide realizar uma enorme pintura colectiva, na Galeria de Arte Moderna de Belém, num esforço criativo de cariz comunitário que juntou 48 nomes da cena artística portuguesa dos anos 1970. Júlio Pomar aparece ao lado de artistas como Noronha da Costa, Fernando de Azevedo, Joaquim Rodrigo, Lourdes Castro, João Vieira, Costa Pinheiro, Eduardo Batarda, António Palolo, entre outros.
O filme que se exibe, em loop, ao longo de todo o dia, 25 de Abril, no Atelier-Museu Júlio Pomar, por ocasião das comemorações dos 40 anos do 25 de Abril – “Pintura Colectiva – Movimento Democrático dos Artistas Plásticos”, Instituto de Tecnologia Educativa, 1975, com a duração de 14 minutos, depositado na Cinemateca – Departamento ANIM (Arquivo Nacional das Imagens em Movimento) -, documenta esse preciso momento criativo, imbuído de um imenso espírito revolucionário.
Excerto retirado de “Elementos Biográficos”, do segundo volume do Catálogo Raisonné de Júlio Pomar:
1974
A revolução do 25 de Abril surpreende-o em Portugal, onde permanece até ao mês de Junho. Participa em intervenções públicas de artistas, nomeadamente numa ocultação da estátua de Salazar existente no Palácio Foz, sede principal da política cultural do regime anterior, e na festa do 10 de Junho, durante a qual quarenta e oito artistas realizam uma pintura colectiva para celebrar a conquista da liberdade. Nessa ocasião, perante a interrupção súbita da transmissão televisiva de um espectáculo teatral, que vinha revelar as contradições da situação política portuguesa, inscreve a frase A censura existe sobre a sua parte do painel. A pintura será mais tarde destruída num incêndio.
Texto de Júlio Pomar, de 1974
Em 1974, Júlio Pomar escreve para o Expresso, na rúbrica “Mudam-se os tempos… Artistas e Escritores falam ao Expresso”, no dia 13 de Julho, p. 22:
“A PRÁTICA, ou uso, da arte é uma forma de conhecimento em acção. O conhecimento em acção requere, e é, liberdade. A liberdade é o objectivo da prática revolucionária.
Dizer que a arte está (ou deve estar) ao serviço da revolução ou a revolução ao serviço da arte, etc., é introduzir a fedorenta dialéctica do senhor e do servo onde ela não cabe, isto é, na liberdade. É utilizar as armas do inimigo da mesma maneira que ele as utiliza, isto é, mal. Tanto que as perdeu. (quem dera!).
Toda a forma de conhecimento ou prática revolucionária se estiola e nega se não dá conta do que difere o projecto da realização, a ideia do facto. Dar conta do que, não previsto, acontece, é marca da arte e da prática revolucionária.
Quanto a revolução serve oportuniza-se. A revolução que se subordina chamam reformismo. A arte que aceita a subordinação serve o obscurantismo, a censura, a repressão. Identificar o obscurantismo, a censura, a repressão, exclusivamente com o regime deposto, ou com uma autoridade outra é votar em cheio na sua continuação.
Todos os acontecimentos deixam marca. O Maio de 68 em Paris ou o Abril de 74 em Lisboa, um encontro magnífico, o quotidiano, tudo o que atinge a força da revelação actua sobre a nossa capacidade de sermos diferentes. Tudo se passa, não numa relação automatizada de causa a efeito, mas na margem onde a diferença irrompe. Prática revolucionária consequente está acopulada ao conhecimento do novo tal como a arte o está.”